Um calafrio subiu pela espinha de Augusto assim que a névoa verde tomou conta do ambiente. Antes mesmo que o oráculo proferisse as palavras, ele já sabia que seria ruim, sentia isso em seu âmago e estava sentindo desde o sonho na noite anterior. Era como se tivesse uma enorme bola em seu estômago, lhe deixando enjoado e com um gosto extremamente amargo na boca. Sentia vontade de sair dali, correr para fora do chalé de Hades, que por si só lhe dava arrepios e fingir que nada daquilo estava acontecendo, fingir que não era com ele. Mas
era. Pela primeira vez, em anos, era justamente com ele. Não poderia odiar mais essa sensação. Absorveu cada uma das palavras de Connor, a quem outrora possuiu sentimentos conflitantes, mas que agora era apenas o namorado de seu melhor amigo. Os olhos naquele momento se desviaram para Lance, não conseguia imaginar o quão assustador poderia ser assistir à pessoa amada naquele estado, totalmente fora de si e possuída por um ser de milênios de anos.
Estava tão imerso na profecia que se quer tinha reparado a aproximação de Maxine, voltando a si apenas quando a mesma murmurou algo. O sangue, que estava esfriando da breve discussão que tiveram, voltou a esquentar ao passo que se lembrava das palavras proferidas pela filha de Dionísio, que Augusto sequer tivera tempo de responder, interrompido pelo oráculo. Abriu os lábios para revidar, o cenho franzido enquanto o maxilar voltava a travar na expressão que ostentava sempre que ficava com raiva. Ela o tinha ameaçado? Um sorriso cínico e que exalava puro desdém se formou, abrindo alas para a enxurrada de ofensas que viriam a seguir. Quem ela pensava que era? Entretanto, Eliot foi mais rápido.
Gus já tinha passado muitos momentos ao lado do filho de Poseidon, afinal, estavam sempre aprontando umas e outras juntos. Já tinha visto o amigo sorrir e chorar, mas nunca o tinha visto com tanta raiva. Podia ver o peito do garoto subir e descer de maneira rápida após dar um banho - não o tipo que ela esperava - na ruiva e cuspir as sentenças mais pesadas, reais e afiadas que ele poderia. O filho de Hermes pensou em intervir, dizer para ele que não valia a pena, que ela era exatamente uma
puta de uma egoísta mimada, mas não conseguia, afinal, Max tinha tocado em sua ferida também. Não o Hermes, o deus era apenas a ponta do iceberg que compunha toda uma infância solitária devido à morte da mãe.
A aproximação súbita de Gregorius arrancou o moreno do misto de pensamentos, fazendo com que o foco estivesse totalmente no rapaz, para Gus, Greg sempre fora misterioso, um enigma a decifrar. Encarou o semideus, agora já nem parecia que a pouco estava ensanguentado no chão
— Você ainda é um líder aqui. — Afirmou, erguendo uma sobrancelha para o outro, apesar de todos os apesares, aquela reunião fora destinada a cada um dos conselheiros e líderes de grupos.
A voz grave e severa de Terrence, que talvez Augusto nunca tivesse escutado, tomou conta do ambiente, fazendo o garoto engolir a seco e encolher os ombros, fitando um ponto do assoalho enquanto recebia a bronca do namorado. Tinha sido infantil? Certamente, mas não conseguia se controlar quando era questionado daquela forma, principalmente vindo de Maxine. O olhar só voltou a se erguer e encarar as orbes castanhas que tanto amava quando ouviu a única coisa que não esperava vir de Terrence.
"Maxine tem razão". A mágoa, muito provavelmente, estava estampada em sua face agora, não porque tinham opiniões diferentes, isso era muito comum devido suas criações e estilos de vida, mas estava magoado por Terry estar proferindo aquilo na frente de todos, na frente, principalmente, da ruiva que tanto detestava. Para Gus, ele poderia ter se colocado de outra forma e só depois, quando estivessem a sós, expusesse o que pensava de fato.
Augusto não reparou que tinha dado dois passos para trás diante daquilo, como se estivesse se colocando de fora da situação toda. Os braços estavam cruzados de maneira instintiva e auto protetora enquanto deixava o filho de Deméter liderar aquele show de horrores, se sentia esgotado. E pelo visto, Lance também. Assim que o amigo abriu a boca, Gus pôde sentir a mudança no ambiente, o clima ficando ainda mais pesado e melancólico, nada fazia muito sentido então e o garoto só sentia vontade de se encolher em um canto. Estava duas vezes mais apavorado e triste, sabia que eram os poderes de Lay, mas nada podia fazer diante daquilo. A sensação, acompanhada do olhar intimidador de Terrence, era aterradora demais, implorava mentalmente para que Lance parasse com aquilo, era muito para absorver.
Como se lesse seus pensamentos, a angústia foi aliviando, mas o olhar do homem que amava permanecia sobre o seu. Augusto sabia o que aquele olhar significava, conhecia o namorado bem o suficiente para saber quando algo não estava em ordem. Ele não queria que Gus fosse, estava, decerto, desesperado com a ideia. Entretanto, Augusto também se encontrava em desespero. Foi ele que teve o sonho, foi ele que reuniu o conselho e despejou tudo para os outros, foi ele que viu a cena se desenrolar, que viu o olhar de súplica de um deus, de seu pai. Mas, nada daquilo tinha a ver com Hermes, não tinha a ver com se provar para a figura, para o Olimpo, para Maxine ou para qualquer um naquele acampamento. Não queria o reconhecimento deles e muito menos a glória, não mais. Tudo se resumia a uma única pessoa: Terrence. Pela segurança dele faria qualquer coisa, iria para o Etna, para São Francisco e até mesmo para o Tártaro se fosse preciso. Enfrentaria deuses, monstros, mortais e imortais para se certificar de que Terry sempre ficaria seguro, intocável.
E foi com esse pensamento que a prole de Hermes voltou para o círculo, desviando o olhar do namorado e encarando o filho de Hades enquanto dizia
— Me ofereço para ir com o Lance pra São Francisco… — A voz saiu baixa e falhada, mas não sentiu vergonha disso. Estava visivelmente assustado, sentia como se tivesse traindo Terrence, quebrando cada uma das expectativas dele, no entanto, não parou e nem se atreveu a olhar para o filho de Deméter
— Yuli, você pode vir com a gente, traçamos a melhor rota para São Francisco e tentamos descobrir a localização do Júpiter. Eliot, se eu puder te dar um conselho, fica, vamos precisar redobrar as defesas do acampamento, seria bom contar com um dos três grandes pra isso enquanto o outro vai com a gente. — A fala agora já era mais firme, tomada pelo instinto de batalha, nunca fora um estrategista exímio como os filhos de Atena, mas seus anos como instrutor de combate lhe deram uma boa noção do que fazer em situações assim
— Gregorius, você funciona bem sozinho, acho que pode tentar descobrir uma coisa ou outra por aí, certo? — Voltou a atenção para o primo e Francesca, umas das duas pessoas que mais confiava naquele ambiente
— O Soren se voluntariou para ir ao Monte e com certeza ele é a pessoa certa pra isso, mas restam dois. Bryan? Fran? — Questionou, sabia que se um fosse o outro também iria, como ímãs, um nunca longe demais do outro.
Pensar sobre aquilo fez com que um bolo quente se formasse em sua garganta. Podia sentir o rosto ficando vermelho enquanto piscava repetidas vezes para impedir que as lágrimas viessem à tona. Sabia que profecias não eram literais e que aquela poderia ter um milhão de interpretações diferentes, entretanto, havia muito em jogo. Havia Yulia, a garota pequena e que via as coisas sempre de forma literal demais, mas que havia conquistado seu espaço no coração de Gus e era uma das feiticeiras mais poderosas do acampamento; tinha Lance, seu melhor amigo, aquele que já tinha sido alvo de sentimentos intensos, mas que foram passageiros; havia Bryan, seu sangue mais que todos os outros, o outro único Schönborn que restara, um dos lutadores mais experientes que o acampamento tinha e Fran, que era como uma irmã, o motivo da felicidade diária de seu primo, aquela que era o elo entre todos eles; e por fim, Soren, a quem não tinha um vínculo forte, mas conhecia e respeitava o semideus como um dos melhores ferreiros já vistos. Era um peso enorme, um fardo muito grande para carregar.
— Temos um plano então? Acho que vocês querem comunicar ao Quíron e ao Sr. D agora… — Murmurou, exausto, os braços pendiam ao lado do corpo na postura cabisbaixa
— Dependendo do que eles falarem, devemos partir em breve. — Deixou um suspiro logo escapar e fitou finalmente os olhos daquele que estava acima de todos, daquele que era o motivo real para estar fazendo aquilo. Esperava e torcia com todas as forças para que encontrasse algum tipo de apoio no olhar de Terry, precisava desesperadamente apenas dele naquele momento.
- importante:
Como é uma RP que interfere diretamente na trama, ela será desenvolvida em 5 turnos, cada turno terá o prazo de 7 dias para postagem, contando a partir de 09/01. Um novo turno se inicia com uma nova postagem minha, é isso, um beijo da Anita