Prazer, meu nome é Eliot Amery Martinez e, segundo a filha do deus da loucura, logo logo eu vou comprar uma passagem de ida pro hospício.

Senti todos os meus musculos enrijecerem conforme Maxine aproximou-se calmamente, parecendo o Estreito de Drake prestes a engolir meu barquinho. Todo o meu descontrole emocional pareceu minguar, e conforme ela fungava minha orelha e profetizava sobre meu destino, engoli seco. Seria mesmo aquele o meu fim? Louco de pedra, tal qual minha finada mãe? Charlie já sabia daquilo e estava apenas se preparando para meu surto eminente? Jamais saberia.

Claro, meu caro leitor. Eu não precisava ter dito nem um terço de tudo o que eu disse mas, como minha psicóloga sempre apontou desde os meus seis anos de idade, aprender a lidar com meu temperamento explosivo em situações tempestuosas seria o maior dos meus problemas. E cá estava eu, praticamente ao centro do chalé de Hades, diante de todos os conselheiros, batendo boca com quem fora meu primeiro amor adolescente.

Não rebati. Não tive coragem. Dei dois passos atrás, cabisbaixo como um cachorro abandonado, sentindo o peso da culpa esmagando meus ombros. Era assim que Atlas se sentia?

Permaneci em silêncio durante todo o restante da reunião, absorto em meus próprios pensamentos, quase afundando diante do remorso de ter dito tantas coisas. Ok, beleza. Maxine era realmente uma puta de uma egoísta mimada que achava que o mundo era mais bonito e cor-de-rosa por seu papai estar ali preso entre os mortais? Sim. Mas, pensando com calma, era de mais bom tom não tê-lo dito. Ainda mais considerando tudo o que havíamos passado.

Quando Gus falou sobre minha permanência no acampamento, apenas assenti. Eu não tinha o que fazer no Monte Etna, e Charlie não seria mandada naquela missão, tornando minha permanência em New Jersey certeira. Ignorei completamente os discursos emocionantes dos demais líderes, pois simplesmente estava sem saco e sem cabeça para toda a honra de tomar no cu em nome dos deuses. Se eles gostavam de ser saco de pancadas do Olimpo, parabéns. Eu não gostava, e preferia mil vezes estar assistindo uma aula de Estruturas II com aquele psicopata do MIT que ir pro front de batalha contra sabe-se lá quem.

Suspirei, quase agonizando diante da demora. — Acho que foi tudo decidido, certo? Podemos ir escrever cartinhas de despedida, já que existe uma grande chance de estarmos todos mortos em duas semanas?

Gus acreditava que o pior tinha passado, que tinham resolvido as questões mais importantes e que a reunião poderia ser dada como finalizada. Mas era óbvio que não seria simples assim. O surgimento inesperado de Aaron, o filho de Nyx, fez com que o semideus ficasse em estado de alerta novamente, tentando controlar as batidas rápidas do coração diante do susto pelo aparecimento repentino. A sequência de informações novas só serviu para que o nervosismo se alastrasse ainda mais em seu corpo, tinha visto o estado do Etna em seu sonho, mas ouvir sobre São Francisco, sobre o que estava acontecendo lá diretamente de alguém que tinha acabado de voltar do local era diferente. Estava com medo, precisava admitir, mas não podia deixar transparecer mais do que já tinha deixado durante aquele conselho.

Olhou de relance para Yulia e depois Lance, numa espécie de entendimento mútuo entre os dois que iriam enfrentar aquela missão ao seu lado. Aquilo era muito injusto e era desesperador o fato de que todos ali estariam separados em pouco tempo, cada um seguindo uma trilha guiada por uma profecia de merda. Se Augusto pudesse pedir algo, um único desejo, seria para que fosse normal, para que aquela realidade se tornasse apenas mundana. Voltou-se para Aaron, dando um resumo de seu sonho e do que tinha sido decidido na reunião. Aquele assunto parecia não ter fim e tudo que ele queria era pegar Terrence e sair dali, ir para um canto onde pudesse respirar ao menos um pouco antes do que estava por vir.

A atenção se desviou para Francesca, estava claro que ela provavelmente estava à beira de um colapso com aquelas informações, com o fato de precisar ir em uma missão junto de Bryan. O filho de Hermes nada falou diante daquilo, já se sentia culpado o bastante por sugerir que Bryan fosse ao Etna quando ele era sua única família viva. Onde diabos estava com a cabeça quando optou por aquele conselho? Todos estavam com o destino traçado agora. Se tivesse ficado quieto talvez, só talvez, pudesse adiar um pouco aquilo. Não conseguia parar de pensar que há algumas semanas estavam todos rindo na festa do chalé de Dionísio, aproveitando como o que eram, jovens. Eram apenas jovens… Como podiam esperar que fossem heróis?

Ele ouviu o discurso de Yuliya com a testa franzida, aquilo até que fazia sentido, mas era demais pedir que não se sentissem meros peões, ela mesma era uma das mais jovens ali, mas carregada de responsabilidades gigantes. Entretanto, foi o que Lance falou que de fato traduziu tudo o que estava sentindo. Era tudo sobre aquilo, afinal, sobre fazer o que fosse preciso por quem amava e ele iria até o fim nisso.

— Acho que é tudo… — Soltou um longo suspiro antes de continuar — Maxine, comunique como achar melhor para Quíron e Dionísio, vamos esperar as ordens deles para agir — Franziu o cenho ao ouvir as palavras irônicas de Eliot, sentiu vontade de repreendê-lo, mas não tinha mais forças para mais nada, estavam todos com os nervos à flor da pele — É melhor todo mundo tentar descansar, amanhã nos encontramos na Casa Grande para decidir como iremos. — Saiu da roda, caminhando a passos largos na direção do filho de Deméter, os dedos se entrelaçando automaticamente aos seus enquanto rumavam para fora do chalé 13.